A inovação, tema cada vez mais central em nossa sociedade, está diretamente associada à possibilidade de um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável. Neste cenário, com base na inovação, as instituições educacionais devem assumir um papel cada vez mais relevante. (Ronaldo Mota[1])Recentemente tivemos conhecimento da existência de um convênio internacional via Internet firmado por uma Escola de Línguas brasileira com uma entidade de aposentados norte-americana que se dedica, entre outras atividades, à prática de conversação da língua inglesa entre alunos do nosso país e idosos da instituição. Sucesso absoluto e sem custo algum. Isto é criatividade ou inovação? Este fato inusitado nos remete ao pensamento de Peter Drucker[2], escritor, professor e consultor administrativo, ao afirmar, no final do século passado, que nos próximos cinquenta anos as instituições educacionais sofreriam mudanças e inovações mais drásticas e radicais do que as ocorridas em seus anteriores trezentos anos, quando se apoiavam nos chamados detentores do saber: professores e bibliotecas. Não conhecemos a opinião de Drucker diante do desafio de superar o acomodado, carcomido e arcaico sistema universitário. No entanto, passados mais de quinze anos da assertiva do “pai da administração moderna”, ainda são tênues, pelo menos no Brasil, as mudanças na maneira de aprender que se originam das novas tecnologias de informação e comunicação, da aprendizagem contínua e das demandas da sociedade pós-industrial. Ainda hoje, a universidade está completamente presa ao passado e resistente a propostas inovadoras. Trata-se de um imobilismo brutal e atávico. Inovação exige mudanças e a escola em todos os níveis detesta tudo que está ligado a transformações. O documento da Unesco “Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI – Paris 1998”[3] destaca as mudanças pelas quais o sistema universitário ainda precisa passar, exigindo modificações drásticas nos currículos, nos métodos pedagógicos, na formação contínua de professores. Isto implica incorporar novas tecnologias, utilizar a educação a distância, compreender e explorar os ambientes virtuais, sem contar os outros aspectos inovadores decorrentes da alteração radical de entrega de informações já prontas e sistematizadas pelo professor para memorização e repetição por parte dos alunos. A valorização da parceria e coparticipação entre professores e alunos, e entre os próprios alunos, na dinamização do processo de aprendizagem e de comunicação, se justificam pela necessidade de gerar novas formas de trabalho pedagógico e de aproveitar as atividades escolares. O tema inovação no setor educacional tem invadido a pauta de encontros, seminários e discussões acadêmicas, onde todos falam e opinam sem se preocupar com o seu conceito e significado. Marcos Masetto em artigo recente — “Inovação na Educação Superior”[4] — traz algumas luzes à nossa reflexão. Para ele, a inovação ocorre, além de outras dezenas de possibilidades: a) na oferta de novos cursos; b) na elaboração e no desenvolvimento do projeto pedagógico; c) na definição dos objetivos educacionais; d) na reorganização curricular; e) na reformulação das disciplinas e das atividades complementares; f) na substituição das metodologias de aprendizagem; g) no processo de avaliação dos estudantes; h) no uso de novas mídias; i) na maneira diversa de selecionar os estudantes. Podemos também recorrer – ainda que nem todos se sensibilizem – aos ensinamentos da administração, segundo os quais uma empresa inovadora é aquela que, para sobreviver, aprende a descobrir e a incrementar uma vantagem competitiva em relação às concorrentes, sintetizada como única, difícil de imitar e superior a seus rivais. Para isso, é preciso observar alguns focos entre os quais: qualidade superior do produto, distribuição ampla, alto valor de marca, reputação positiva e competente equipe gerencial e de funcionários. Ou seja, a organização que absorve tais ensinamentos é aquela na qual as pessoas aprimoram continuamente as suas capacidades para criar cenários e antecipar o futuro. Com a educação não há de ser diferente. Inovação e mudança andam juntas. Na inovação os envolvidos no projeto de mudança têm o compromisso de aprender, mudar, adquirir novos conhecimentos, alterar conceitos e ideias trabalhadas, às vezes, durante muitos anos. Para tanto, será preciso assumir novos comportamentos e atitudes não comuns para repensar a cultura pessoal e organizacional vivida até aquele momento. Será preciso ainda – e isto é fundamental – mudar as próprias crenças e aderir a novas maneiras de pensar e de agir. Ou seja, atribui-se especial importância à reciprocidade absoluta no processo entre docentes e discentes. Sem isso, melhor não aplicar. Se os discentes não derem a contrapartida nada acontece. Frente ao mundo em constante mudanças e impulsionado sobretudo pelas inovações digitais, a escola não pode mais se esconder no seu nicho milenar do anacronismo, da sala de aula tradicional e ignorar a diversidade de meios de informação, hoje fartamente oferecida gratuitamente pelos milhares de sites da Internet. Estamos vivendo uma nova era em que não se pode deixar de lado a tecnologia, as mudanças socioeconômicas e culturais. Este novo cenário, pelo menos no Brasil, mostra o maior poder aquisitivo da classe “C” que não se restringe tão somente aos bens tangíveis, como uma máquina de lavar roupas ou um carro, mas alcançam os intangíveis, como o acesso à educação superior. Nesse sentido, é imperativo repensar as práticas educativas, pois o modelo clássico e eurocêntrico de educação não basta para dar conta desta nova realidade. Na área da educação, Francisco Imbernón, citado por Masetto, desenvolveu reflexões interessantes sobre os desafios para a educação e destacou quatro ideias-força na base da mudança que devem impulsionar o futuro imediato da educação quais sejam:
- recuperação por parte dos professores e demais agentes educativos do controle sobre seu processo de trabalho;
- valorização do conhecimento, tanto daquele já adquirido e desenvolvido pelas gerações e culturas anteriores – que tem seu valor e importância mesmo nos dias de hoje, mas que se apresenta como insuficiente para os próximos tempos – quanto dos novos conhecimentos que são investigados e produzidos atualmente em novas condições de número de informações, de velocidade de comunicação e de proliferação de fontes de conhecimento;
- valorização da comunidade como verdadeira integrante do processo educativo, da comunidade de aprendizagem, corresponsável pelo projeto pedagógico da instituição;
- diversidade como projeto cultural e educativo. [5]
Que tenha sentido. | 35% dos jovens brasileiros acham que o aprendido na escola não é útil para sua vida. | Personalização |
Que os prepare para o mundo do trabalho. | 1% acredita que a formação pós-ensino médio tenha ampliado suas oportunidades de trabalho. | Competências do Século XXI |
Que os ajude a empreender. | 50% gostariam de abrir sua própria empresa. | Empreendedorismo |
Que desenvolva sua criatividade e capacidade de inovação. | 23% desejam trabalhar em empresas em que possam inovar. | Maker Movement |
Que os ajude a construir um mundo melhor. | 1 a cada 12 são jovens-ponte, agentes de transformação. | Educação baseada em projetos |
Que extrapole os muros da sala de aula. | 84% sentem falta de locais onde possam aprender além das escolas e universidades. | Comunidades de Aprendizagem |
Que os ajude a se realizar e ser felizes. | 50% têm como maior medo não conseguir realizar seus objetivos pessoais. | Projeto de vida |
Que seja permeada pela tecnologia. | 7 horas é a média de tempo que os jovens da América Latina passam on-line, por dia. | Ensino híbrido – Moocs |
Fonte: porvir.org
A análise e a reflexão conjunta dos achados das mencionadas pesquisas por parte de todos os envolvidos no processo educativo podem contribuir para o desenvolvimento do processo de inovação que deve acontece no interior das instituições. Pari passu devem ser incentivadas as análises sobre o conceito e as práticas de inovação em diferentes setores, realidades e organizações educacionais e não educacionais. A propósito, e para concluir, perguntamos aos leitores: a experiência citada no início deste artigo – a do convênio firmado por uma Escola de Línguas com uma entidade de aposentados norte-americana – é criatividade ou inovação? Aguardaremos com grande expectativa as respostas como contribuição ao texto que pretendemos escrever na próxima semana. [1] http://www.abmes.org.br/abmes/public/arquivos/publicacoes/abmes_cadernos_28.pdf [2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Drucker [3] http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direito-a-Educa%C3%A7%C3%A3o/declaracao-mundial-sobre-educacao-superior-no-seculo-xxi-visao-e-acao.html [4] http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-32832004000100018&script=sci_arttext [5] Francisco Imbernón. A Educação no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2000 [6] Walter Esteves Garcia, Inovação Educacional no Brasil. Problemas e Perspectivas. Campinas: Editora dos Autores Associados, 1980. [7]Juana M. Sancho, Fernando Hernández, Jaume Carbonell Sebarroja, Nuria Simo, Emilia Sanchez-Cortes. Aprendendo com as inovações nas escolas. Porto Alegre: Artmed, 2000.